quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Marcha das Vadias* - o que é ? do que se trata ???


O movimento da marcha das vadias surgiu no Canadá, em 2011, batizado de Slutwalk. Em janeiro deste ano um policial fez uma fala sobre segurança e prevenção ao crime, no campus da Universidade de York, em Toronto. Durante sua fala, ele afirmou que "as mulheres deveriam evitar se vestir como vadias, para não serem vítimas de ataque". A reação indignada foi imediata, pois este pensamento transfere a culpa da agressão sexual para a vítima, insinuando que, de alguma forma, ela provocou o ataque.

No dia 03 de abril de 2011, na cidade de Toronto, aconteceu a primeira Slutwalk, uma passeata pelo fim da culpabilização da vítima em casos de agressão sexual. Aqui no Brasil organizou-se, no mês seguinte, a “Marcha das Vadias”, movimento de enfrentamento à violência doméstica. Ao longo de todo o ano diversas cidades brasileiras realizaram suas marchas e, em 2012, mais de 20 cidades organizaram a primeira “Marcha Nacional das Vadias”.

Apesar da polêmica do nome, o movimento ganhou força, pois as mulheres refletiram sobre os usos e o poder da palavra vadia. Há muito tempo os homens têm usado a palavra vadia para justificar todos os tipos de agressões. Afirmam que apanhamos porque somos vadias, que merecermos sermos estupradas porque somos vadias. Que um decote ou uma minissaia nos tornam vadias. O termo vadia oprime nossa sexualidade, pois nos torna um mero objeto de satisfação sexual.

Desta forma, buscamos usar a força da polêmica da palavra vadia para ressignificá-la. “Se ser livre é ser vadia, então somos todas vadias” tornou-se o lema do movimento. A irreverência da reapropriação de uma palavra que carrega uma conotação tão negativa sugere o caráter subversivo da marcha. Estamos aqui para buscar a transformação do quadro de violência contra a mulher e a polêmica nos dá força para chamarmos a atenção da população brasileira para este problema histórico, que há tempos não recebe a devida atenção do poder público.

Vivemos em uma sociedade que tolera a violência contra a mulher. Os números da violência doméstica são alarmantes em todo o Brasil. As últimas pesquisas publicadas revelam que o Brasil é o 7º país que mais mata mulheres em todo o mundo. O Paraná é o 3º estado em número de feminicídios. Esta é a nossa realidade e é para isso que queremos chamar a atenção.

Ao gritarmos: “Eu sou vadia e você?” reafirmamos que agora vadia virou sinônimo da mulher que luta e que não se cala diante da violência. É a nossa força de reação e o nosso poder de mobilização. Nossos polêmicos corpos à mostra escancaram a busca pelo fim da opressão. Chocamos a população? Sim. Esse é o nosso propósito, e o grande questionamento que levamos para as ruas é: “Por que o termo vadia é mais chocante do que os números da violência contra a mulher”?

* texto escrito pelas ativistas que organizaram a marcha em Curitiba.

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