domingo, 31 de outubro de 2010

Ah! Essa carência de você

que judia tanto de mim.
Que me faz viajar pelo passado
que me faz sonhar e delirar
com você me amando.
Olho para dentro de mim
não vejo nada...
apenas pedaços, partidos,
remendados, doidos demais.
Em minh'alma uma nevoa fina
embaça todo meu coração,
impedindo-o de ver você.
Apenas sinto ainda , seu
contato físico, gostoso,lúdico,
sinto suas caricias pertinentes
que faz meu corpo estremecer.
Quisera estar deitada a seu lado
descortinando você por inteiro
vivendo o doce êxtase do prazer
saciando esse desejo que me
consome as entranhas
que me abala profundamente.
Ah! Essa carência de você,
ainda vai me fazer adoecer...

(Arneyde T. Marcheschi)

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

(Vinícius de Moraes)

Ter ou não ter namorado ?

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabira, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil.

Mas namorado mesmo é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio, e quase desmaia pedindo proteção.

A proteção dele não precisa ser parruda ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento, dois amantes e um esposo; mesmo assim pode não ter nenhum namorado.

Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche da padaria ou drible no trabalho.

Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar lagartixa e quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de curar.

Não tem namorado quem não sabe dar o valor de mãos dadas, de carinho escondido na hora que passa o filme, da flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque, lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia, ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir, fazer sesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele; abobalhados de alegria pela lucidez do amor.

Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e vai com ela a parques, fliperamas,beira d’água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.

Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.

Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.

Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando 200kg de grilos e de medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesma e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenção de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada.

Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteio.

Se você não tem namorado é porque não enlouqueceu aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e, de repente, parecer que faz sentido.

(Atribuído à Carlos Drummond de Andrade, mas é de Artur da Távola)

Por não estarem distraídos ...

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.

Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros.

O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram.

Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.

(Clarice Lispector)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

A Alca e o Mercosul

Temos aqui um tema de caráter político, que trata das aberturas econômico-político-sociais ocorridas no mundo de forma generalizada. Primeiro passo, abordar que a globalização é a abertura do mundo para o mundo no que diz respeito à economia e, por conseguinte , à supremacia das nações desenvolvidas sobre as periféricas.

Como todo processo econômico passa por evoluções, temos uma estratificação das nações subdesenvolvidas tentando proteger-se do imperialismo americano com a criação do Mercosul, reforçando o bloco de países, muitos deles desordenados na própria economia , no intuito de manter as relações econômicas com a América, mas tornando-se fortes na junção desses capitais.

Em contrapartida, para aniquilar o Mercosul, os Estados Unidos, potência mais estruturada do planeta, criam a Alca para subjugar (abafar , dominar , vencer) os países em desenvolvimento à tutela deles. Temos, então, uma briga de economias em meio ao processo. Mesmo com a integração que pretende ser promovida pela Alca , os EUA deverão continuar colocando barreiras protecionistas em alguns produtos , como os gêneros agrícolas , para o Mercosul.

A Alca é hoje um movimento que os EUA fazem com toda a América Latina buscando integrar as suas economias. Isso seria juntar no mesmo lugar o Leão e o Cordeiro , pois o Brasil e as economias latino-americanas não tem condições de competir em igualdade com a economia americana. Nossa economia seria subordinada , ramos da indústria do Brasil desapareceriam e haveria alterações em profundidade da nossa justiça e sociedade , orientados pelos interesses americanos.

Para muitos países do Mercosul como Chile , Perú e México (país observador) , a consolidação da Alca é vista como uma oportunidade de ampliação das exportações e atração de investimentos. Na realidade , a implementação da Alca significaria o agravamento da vulnerabilidade dos países do Mercosul. Portanto , a Alca precisa ser rejeitada como um todo , para que os países latino americanos possam defender a soberania e os direito de seus povos.

Liberalização das Drogas

Geralmente uma pessoa que usa drogas , o faz porque está enfrentando algum tipo de problema em casa, ou está com dificuldades , enfrentando a solidão ou simplismente não aceita a vida como ela é. Enfim , motivos não faltam para um indivíduo cometer tal ato de fraqueza (sim , quem entra nesse mundo , entra por que é fraco. Não há outra justificativa); o que é digno de pena , à medida que , sem perceber , estão cometendo um suicídio a longo prazo.

É importante destacar a atitude hipócrita das pessoas ao reclamar das autoridades , que a mídia só mostra cenas de violência e injustiça social , etc. O engraçado é que esse mesmo tipo de pessoa , enche a boca para reclamar do governo, mas não faz nada para impedir as aberrações políticas que vêmos por aí , pelo contrário , assiste a tudo de braços cruzados (isso tem raízes históricas) , e ainda por cima , de forma burra e irracional, é um dos maiores consumidores de drogas do país.

O uso de drogas segue a mais simples lei de mercado: oferta e procura. Vamos , de forma resumida , tentar entender o negócio: o usuário consome drogas – o traficante fornece – há um aumento no consumo – o traficante , óbvio , amplia o negócio – a polícia aperta o cerco – o traficante precisa reforçar a sua segurança – entram armas na ilegalidade dentro das bocas – as armas extraviam – um pai de família é assaltado – uma mãe é estuprada – e uma irmã , que aprendeu com algum hipócrita (provavelmente o irmão ou o namoradinho) , continua usando drogas e financiando o tráfico. Enfim , temos aí um processo cíclico e contínuo.

Há quem diga que o tráfico acabará se o usuário deixar de comprar , ou se as drogas (no caso a maconha) forem legalizadas. Isso , além de utópico , é ingênuo !!! Hoje os bandidos que controlam o tráfico de drogas também controlam máquinas de caça-níqueis, vans e kombis do transporte alternativo, venda de botijões de gás, gatonet, e um sem número de outras atividades bem rentáveis (e com uma relação custo-benefício melhor do que o comércio de drogas). Portanto, sem o tráfico de drogas, eles continuarão lucrando. A verdade é que hoje, no Rio, não se disputa ponto de venda de drogas, a disputa é por território. Muito mais complexo do que era anos atrás (ou seja , a legalização das drogas não seria uma solução).

Por fim , já em uma tentativa desesperada de ainda argumentar, surgem as seguintes palavras: “Mas isso não importa!!! Eu ACHO que tem que legalizar”. Tudo bem, é de direito . Cada um pode achar o que quiser , desde que tenha argumentos concretos para defender seu “ponto de vista”. Sinceramente , não há como culpar determinados indivíduos por tal “opinião”. Afinal , defender a legalização das drogas com raciocínio sólido e contundente é tarefa árdua.

As novas práticas seuxais no mundo: Barebacking e Swing

Barebacking é a prática do sexo anal sem a proteção da camisinha. Já o Swing ou troca de casais é um relacionamento sexual entre dois casais estáveis que praticam sexo grupal. Fato totalmente polêmico , pois produz indagativas a respeito das liberdades expressivas, as novas práticas sexuais têm mostrado que o mundo, no que concerne às relações e atitudes das pessoas, tem perdido parte do equilíbrio.

A cada ano, percebemos a necessidade das pessoas, muito semelhante ao desespero, em não mais exercer as individualidades delas, mas de extravasá-las. É como se o ato em si não fosse suficiente, mas a quantidade pela qual é executado este ato.

Assim, nas situações pessoais, percebemos a distância e o descompromisso com a afetividade, com o respeito a outra pessoa com a qual dividimos nossos atos sexuais e de amor.

É como se todos nós estivéssemos sendo comparados a um pedaço de carne em que as pessoas, diversas delas, pegam e depois jogam fora como um produto de terceira qualidade. São os chamados "tempos modernos" como também o tempo das degradações éticas e morais.

É importante saber que nas modificações comportamentais, será interessante resgatarmos a idéia de que somos seres dotados de sensibilidade e por isso devemos valorizar qualidade em lugar da quantidade.

Clonagem: Evolução ou Degradação Humana ?

Após 21 séculos de evolução, o homem tem desenvolvido técnicas que explicitam a capacidade de criação infinita.

A possibilidade de clonagem desenvolvida na Escócia pela equipe de Doutor Ian Wilmut e Keith Campell rompem conceitos nas diversas áreas que estruturam a sociedade; são elas, as bases morais, sociais e éticas.

Entretanto, a grande indagativa surgirá ao passo em que nos depararmos com a possibilidade de convivermos com seres criados através da experiência in vitro com a realidade de um povo mundialmente conservador e até muitos com características absolutamente rudimentares.

Somos a mesma sociedade da tecnologia lunar que se contrapõe à presença de milhões de analfabetos e famigerados pelo mundo inteiro. Somos a sociedade da biotecnologia, com a presença dos bebês de proveta, da barriga de aluguel como também a sociedade preconceituosa que não aprendeu a respeitar as diferenças de pele, de características físicas, religiosas e sexuais do outro.

Portanto, mais profundo do que aceitar ou não a clonagem, que seria benéfica na reconstrução de órgãos, na reprodução de animais extintos, na melhora genética de animais como ocorreu com Dolly e Polly, seria preparar a própria sociedade para entender as evoluções pelas quais ela está passando.